terça-feira, 30 de abril de 2013

Motivos de usar DSGE


Este texto é do professor da USP Fabio Kanczuk, o qual trata essa discussão sobre o estudo da macroeconomia de forma irônica,  contudo sem faltar com a verdade em nenhum momento.

Macroeconomia = Identificação (Fabio Kanczuk)


Para os velhos de qualquer idade, Macroeconomia é contar histórias, acreditar que elas são derivadas de uma igualdade contábil, sem perceber que são somente identidades. Confundir o que é endógeno com exógeno, equilíbrio com desequilíbrio. Como serve para comprar o leite das crianças, e o próprio economista acredita no que está fazendo, acho que é uma atividade perfeitamente honesta.

Para os jovens de qualquer idade, é importante pensar em termos de equilíbrio, e identificar os choques exógenos, para daí poder contar a história. Senão, fica tão desonesto que até alguns consultores ficam com vergonha. Nesse caso, mesmo com as brutais limitações, o DSGE ajuda a pensar.

Tem gente que é inteligente o suficiente para dispensar modelos, e consegue fazer a identificação de cabeça. Quando eu tento fazer isso, noto que me confundo várias vezes. Noto também que outras pessoas se confundem, mas não percebem.

Outra coisa é projeção. Um DSGE serve, assim como um AR(1) e o cérebro humano, para fazer uma projeção mais ou menos decente. Como a mistura de várias projeções feitas com diferentes metodologias domina uma única projeção, o DSGE tem serventia.

Ainda outro assunto é fazer cenários, tipo “quanto precisa de juros para trazer a inflação para a meta de 5,5% em dois anos?” ou “quanto essa medida macroprudencial significa em termos de SELIC”. Para isso, o DSGE claramente domina um modelinho do tipo “estrutural” (Phillips sem teoria + IS dinâmica sem investimento/exportações), exatamente pela questão de identificação. (Basta tentar estimar Phillips usando alguma medida usual de hiato que você já começa a perceber que esse modelinho não presta, subestima o poder da política monetária e a persistência das variáveis.) Nesse sentido, acho que o DSGE ajuda sim a aplicar Pré, apostar na inclinação da curva entre 2015 e 17, etc. Mas claro que não é panacéia, e que o Brasil tem dimensões continentais.

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